6.2.11

agência de viagem

enterrei meu coração no Cariri
para que apodrecesse ou germinasse.
por isso, quando me perguntam:
“– homem, onde está seu coração?”,
eu digo: “– procure lá no Cariri


“uma árvore espinhosa e contorcida
“e que pela secura o lenho lembre o chão.
“em algum lugar sem latitude,
“está meu coração no Cariri.”


mas por vezes duvido que aquela semente
de genes imperfeitos e tão rugosa
tenha vazado a terra e conhecido o ar.
por vezes eu penso que no Cariri
não há árvore nenhuma,


apenas um chão branco e iluminado
como uma folha branca que recusasse
qualquer sinal. e lá, onde implantei
minha pequena carne venal,


há apenas uma seara de poeira e vento,
um chão de cal pura banhado de sol
e de sol e de sol.
por isso, quando me perguntam:
“– homem, onde está seu coração?”,
eu digo: “– está noutro lugar,
“em algum lugar algum…”




.bcg.
do livro Ressentimento da terra e outros poemas sem aragem, inédito.