27.2.11

os argonautas

a Fernando Pessoa


“vão-se os anéis, ficam os dedos.”
“dera a mão, tomaram-lhe o braço.”
ditados populares



portugueses perderam pais e avós
“por mares nunca de antes navegados”;
eu também perdi pai e avós, prensados
entre as molas do campo e da cidade.


alguns tiveram rendas, um império
efêmero tiraram, arriscados;
meu avô mal poupou o risco do arado,
meu pai teve o trabalho por herdade.


nossa herança aplicamos, sem piedade;
mas após trabalhar por tantos anos
solidão e loucura resgatamos.


infeliz o que tem como verdade
apenas o trabalho para outro:
sem anéis, dá a mão – e perde o corpo.



 
.bcg.