e eu me pergunto se entre seus muros inflexíveis
e seus espelhos cegos de prata, se entre tantos homens cinza,
sentimentos cinza, torres fulgurantes e coloridas e no entanto cinza,
se aqueles olhos vão se deitar em qualquer chão, cansados,
e, duros, vão se embaçar, resignados.
ou, quem sabe, por uma lei física ou por pura sorte,
de seus olhos azuis e suas lágrimas azuis
verta um pequeno borrão de cor sobre o calçamento
e de repente um regato, um rio azul
percorra todas as diagonais da cidade cinzenta
e cumpra a promessa de água e purificação que não cabe mais às
[chuvas.
e vindo de todas as diagonais se reúnam as águas no centrocomo um lago calmo, como um bebedouro,
e talvez agora a cidade, lavada de cor e mais macia,
possa beber dessa água-mulher com calma e repouso.
.bcg.
do livro Ressentimento da terra e outros poemas sem aragem, inédito.