uma velha cirze do filho a calça sem reparos.
a velha cirze do filho que não chega
uma calça velha e desesperada de trabalho.
um homem na rua escura; um outro.
poucos passos pela rua escura. os bares,
pouco iluminados de uma bulha débil,
lhes dão as costas.
as sombras, irônicas, cacarejam e dão voltas
em torno aos postes e suas lâmpadas de ouro.
as sombras e as penumbras, por toda a cidade, amarelas,
riem dos postes, da prefeitura e da Companhia Elétrica.
um galo solitário e quase extinto dorme em um subúrbio.
numa rua sem árvores, uma lua improvável
rebrilha. em algum lugar, uma praça aberta,
música e um sorriso rápido.
luminosas são as vitrines da esperança, iluminadas
suas promessas de luz própria! diante
de seu fulgor há sempre um quarto escuro
e sem prazer...
num quarto escuro, um poeta, dois pontos luminosos,
um gato, observam, adivinham os pátios internos,
os becos, as varandas sem cadeiras e outros quartos
desabitados.
a cidade inteira, céu, terra e suas estrelas.
um estrondo de vento, esguio e leve, dá voz
a esse novelo de cobras de fogo
ardendo os prados, as matas mortas,
imensa floresta sibilante de carvão.
.bcg.
do livro Ressentimento da terra e outros poemas sem aragem, inédito.