2.7.20

ratos




foi depois que enterramos o último, eu acho,
inauguramos nova regra, mais polida e perplexa,
este sonho eleático em que mover-se nada
é senão solar a permanência sob pés angustiados.


foi depois, sim, depois que coalhamos com mortos sem nome
a terra ressentida, saltamos do absurdo para espirais
de silêncio e cidades de horizontes infinitos e
    [simulados, sempre abertas
e das quais nenhum de nós pode mais sair.


da peste com seus ratos, de mãos sujas de outro mundo,
criamos um novo, de intocável higiene, tão puro
que fizemos invisível o vermelho e com ele o sangue.


a peste se foi. o último homem se foi. pode brincar,
meu filho, teus piques sem pega em teu celeiro de unicórnios
e fantasias alienígenas e super-homens domesticados,


que esta estranha nova sina não nos legou mais nada:
nem forma nem metro - nem rima.


.bcg.