5.10.10

paiol velho

nunca fomos reis,
jamais fomos seus amigos,
nem beijamos da República
nenhum de seus signos.


não seguimos leis,
inútil esse Direito.
porém plantamos com as mãos
a honra e o respeito.


algum tempo foi
que em tal ventura vivemos:
bois na estrada do futuro;
fazer mais do menos.


algum tempo foi
que, pobres, fomos senhores,
e em nossa pequena sorte
desprezamos dores.


porém não pudemos
ver em céu tão limpo e claro
que era para estranho outro
o café e o gado.


ver nós não pudemos
que a cidade nos puxava
como a luz atrai o inseto
e o fulgor o mata.


seguiram os bois,
seguiu o café a estrada
que nós, incertos, seguimos;
e a vida ficou


para trás, passada.



.bcg.
do livro Ressentimento da terra e outros poemas sem aragem, inédito.